João Cutileiro

SOBRE:

João Pires Cutileiro nasceu em Lisboa a 26 de Junho de 1937 , no seio de uma família da média burguesia, ilustrada com sentimentos anti-fascistas. O artista faleceu em 2021.

Entre 1949 e 1951, Cutileiro frequenta o estúdio de Jorge Barradas, onde modela, pinta e executa vidrado de cerâmica.

Aborrecido dessa experiência, muda-se para o atelier de António Duarte, onde passa os dois anos seguintes como assistente voluntário de canteiro.
É neste período que se dá a iniciação de Cutileiro à pedra pois o seu trabalho no atelier de António Duarte era o de ampliar os modelos do mestre canteiro (o mestre José), passá-los a gesso e traduzir esses gessos para o mármore.
Com António Duarte, Cutileiro aprendeu ainda que jamais devia dividir a sua produção artística em, por um lado, peças académicas-oficiais (como fonte do seu rendimento) e, por outro lado, obras feitas para seu exclusivo prazer pessoal.
Aos catorze anos, em 1951, Cutileiro faz a sua primeira exposição individual, realizada em Reguengos de Monsaraz (Alto Alentejo), numa loja de máquinas de costura, apresentando peças de escultura, cerâmica, aguarelas e pinturas.

Fez o liceu no Colégio Valsassina onde, influenciado pelos amigos e pelo ambiente que respirava em sua casa, decide ingressar no MUD JUVENIL.

Em 1951, quando ia a caminho de Kabul (Afeganistão), onde seu pai esteve a trabalhar durante um ano, João Cutileiro passa por Florença, onde toma contacto com a obra de Miguel Ângelo.
Foi uma visão que não mais esqueceu e que lhe fez aumentar a certeza de que queria fixar-se na Escultura (certeza essa que teve aos seis anos de idade, quando esculpiu um presépio).
Na volta de Kabul matricula-se, então, na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (E.S.B.A.L.), sendo seu professor Leopoldo de Almeida.

A frequência de apenas dois anos na E.S.B.A.L., 1953-1954, foi suficiente para lhe provar o que há muito suspeitava: em Portugal qualquer pesquisa era travada e o bronze era o único material considerado “digno” para escultura. Não havia espaço para a criatividade e experimentalismo, que tanto caracterizam a sua personalidade artística.
Sentindo-se constrangido pela mentalidade portuguesa, Cutileiro decide sair do país. É então levado pela mão de Paula Rego até à londrina Slade School of Art.

Durante o curso que fez em Londres, entre 1955-59, Cutileiro não só enriquece a sua formação, como desenvolve a sua experiência. De grande importância nesta fase foi Reg Butler, seu mestre de escultura. No ano em que acabou a Slade, Cutileiro recebeu três prémios: composição, figura e cabeça.

Em 1966 Cutileiro começa a usar máquinas eléctricas de corte da pedra, o que lhe permitiu dedicar-se exclusivamente ao mármore.
Começam então a surgir, sucessivamente, os torsos, as paisagens, as caixas, as árvores e as flores. Entre 1961 e 1971, Cutileiro expôs cinco vezes em Lisboa e uma no Porto.
O ano do regresso definitivo a Portugal foi o de 1970.
O local escolhido para viver foi Lagos, no Algarve, onde permaneceu por mais quinze anos da sua vida. É no atelier de Lagos que Cutileiro se empenha na construção das suas primeiras figuras bífidas e da obra mais polémica de toda a sua vida: o “D.Sebastião”, erguido na cidade de Lagos, na praça Gil Eanes.
Em 1971 o escultor conquistou uma menção honrosa no Prémio Soquil, em Lisboa.
Em 1976 e 1977, as suas esculturas e mosaicos foram apresentados em Wuppertal, Alemanha.
Seguiram-se exposições em Évora (1979, 1980 e 1981) e em Dortmund, Alemanha, em 1980.
Este ano ficaria ainda marcado por uma exposição em Washington (E.U.A.) e outra na Sociedade Nacional de Belas Artes (Lisboa). No ano de 1981 Cutileiro participou no Simpósio da Escultura em Pedra (realizado em Évora) e numa exposição realizada na Jones Gallery, em Nova Iorque.
Dos vários temas desenvolvidos pelo escultor, o dos corpos femininos é o mais marcante. “As Meninas de Cutileiro”, como alguns lhes chamam ironicamente, têm valido ao escultor (além de muito dinheiro) momentos da mais distinta glória mas também do mais visível desprezo.
Em 1988 Cutileiro realiza exposições em Lisboa, Macau e Almancil.
Em 1989 expõe novamente em Lisboa e Almancil e, em 1990, decide fazer uma retrospectiva da sua arte, através de uma exposição ontológica, realizada em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian. Desta exposição ficou-lhe a desilusão de só ver mostrada uma pequena parte da sua obra e a amarga compreensão de que jamais poderia realizar o sonho de reunir, de uma só vez, tudo aquilo que produziu ao longo do tempo.
Em 1992 e 1993 o mestre Cutileiro volta a realizar mais exposições individuais, em Bruxelas, Almancil, Luxemburgo, Évora, Lisboa, Guimarães e Lagos. Nos anos seguintes sucedem-se outras exposições. Apesar do escultor ter conquistado um lugar invejável no panorama da escultura portuguesas e das suas obras serem hoje muito cobiçadas, depois do “D.Sebastião”, muito poucos foram os monumentos de Cutileiro erguidos publicamente.
É como se o conservadorismo estético privilegiado pelo Estado Novo ainda se mantivesse vivo na arte estatuária portuguesa.

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