Lagoa Henriques

SOBRE:

António Augusto Lagoa Henriques nasceu em Lisboa a 27 de Dezembro de 1923. Era filho de Delfim Augusto Henriques, comerciante e ator amador, e de Palmira de Almeida Lagoa Henriques, professora primária, que frequentou o atelier de Columbano. O avô materno era relojoeiro.

Inicialmente morou na Rua da Ilha Terceira, no Bairro dos Açores. Mais tarde, após a morte da avó paterna, foi viver com a família para casa do avô que ficara viúvo e que era alfaiate de profissão e residia na Rua dos Douradores, em Lisboa.

Depois de concluir os estudos liceais pensou cursar Letras ou Direito, mas reprovou nas provas de aptidão à Universidade. Recorreu, então, às aulas particulares de Agostinho da Silva que, após ver os seus desenhos, o persuadiu a estudar Escultura.

Em 1945 matriculou-se no Curso Especial de Escultura na Escola de Belas-Artes de Lisboa, mudando em 1948 para a Escola de Belas Artes do Porto, onde conheceu o mestre Barata-Feyo e foi discípulo de Leopoldo de Almeida e de Dórdio Gomes.
A licenciatura, suportada por uma bolsa de estudo, ficou concluída em 1954 com a apresentação de um trabalho classificado com vinte valores.

Em 1958, Lagoa Henriques foi convidado pela ESBAP para assistente de Escultura, lugar que ocupou em 1959 (a 8 de Janeiro tomou posse, a 23 de mesmo mês já trabalhava como 2.º assistente do 6º Grupo) e, com Alcino Soutinho e Álvaro Siza Vieira, apresentou o projeto do Monumento aos Calafates na I Exposição Extra-escolar dos Alunos da ESBAP, o qual, no entanto, não chegou a ser construído.

Em 1960 beneficiou de uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, a qual lhe possibilitou estudar em Itália e fazer diversas viagens de estudo: pelo Egipto, Grécia, Inglaterra, Bélgica e Holanda. Foi nesta altura que visitou as escolas de Florença, Siena, Pádua e Roma. Nesta última cidade, inscreveu-se numa escola de Escultura em Pedra. Em Milão, trabalhou sob a orientação de Marino Marini (1901-1980).
Regressou ao Porto em 1963 e prosseguiu a sua carreira na ESBAP. Primeiro, como professor efetivo de Desenho, a partir de 3 de Outubro, como professor do 7.º Grupo.

Em 1966, por concurso público, passou a lecionar na ESBAL: no início do ano, como professor do 7.º Grupo, no final, como professor do 6.º Grupo. Nesse ano viajou por Marrocos, Itália e França e participou no VI Colóquio Internacional de Estudos Luso-brasileiros, em Cambridge-Boston.

No princípio da década de 70, um incêndio devastador destruiu-lhe o atelier, bem como o de outros artistas plásticos que mantinham o seu espaço de trabalho nos antigos pavilhões da Exposição do Mundo Português. Lagoa Henriques e os colegas foram realojados pelo município de Lisboa, enquanto que a Sociedade Nacional de Belas-Artes realizou uma exposição com os desenhos resgatados do incêndio. A ele calhou-lhe um atelier nuns armazéns camarários, na Avenida da Índia.

Na ESBAL, Lagoa Henriques participou na renovação do ensino artístico, tendo instituído uma disciplina inovadora – a de Comunicação Visual (1974). Em 1981 assumiu o cargo de Presidente do Conselho Científico e Pedagógico da Escola e, em 1986, requereu a aposentação que lhe foi concedida no ano seguinte.

Entretanto, entre 1982 e 1983, trabalhou, por requisição, no Instituto Português do Património Cultural, coordenando um projeto de divulgação do Património Cultural (1983). Em 1984 foi membro do júri do concurso para atribuição de uma medalha de homenagem a Almada Negreiros.

Durante a década de 90 regeu a disciplina de Desenho na Escola Superior de Conservação e Restauro de Lisboa e, em 2000, foi contratado como Professor Catedrático Convidado, em regime de acumulação, pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
Em 2008, passou a Professor Catedrático Jubilado no Instituto das Artes e Ofícios da Universidade Autónoma de Lisboa.

Lagoa Henriques foi autor de numerosas obras escultóricas, dispersas pelo país e por Macau, influenciadas pela arte do mestre Barata Feyo, pela experiência italiana e pela poesia de Cesário Verde e de Fernando Pessoa.

Escultura de Fernando Pessoa por Lagoa HenriquesEntre as suas obras podemos destacar a escultura de Fernando Pessoa, n’ “A Brasileira”, “O Segredo” (1972), no Jardim Amália Rodrigues, a estátua de Guerra Junqueiro, o mausoléu de Fernando Pessoa, no Mosteiro dos Jerónimos, bem como os motivos escultóricos nos hotéis Rex, Ritz e Altis, todas em Lisboa.

Escultura Conquista de Ceuta de Lagoa Henriques – 1960De igual modo merecem realce: a escultura de Alves Redol, em Vila Franca de Xira; a Conquista de Ceuta, no Jardim do Ouro. E a escultura de Ferreira Borges, no Palácio da Justiça, ambas no Porto; dois grupos escultóricos em Oliveira do Bairro (Entrega do Foral a D. Manuel e o monumento ao Universalismo Português). Esculturas da Imperatriz Sissi e do Papa João Paulo II, na Ilha da Madeira; “Camões” e “Ilha dos Amores”, em Constância. O monumento ao Condestável Nuno Álvares Pereira, em Abrantes. D. Sebastião, em Esposende; António Aleixo, em Loulé; “Ano do Cão” e “Encontro entre o Ocidente e o Oriente”, nas proximidades das ruínas de S. Paulo, em Macau; “Leda e o Cisne”, na Embaixada de Portugal em Brasília; as intervenções em dependências do Banco Fonsecas & Burnay, no Porto e em Lagos; os baixos-relevos nos palácios da Justiça de Gouveia e de Lisboa. A medalha comemorativa dos 80 anos da Sociedade Portuguesa de Autores (2005).

Escultura O Segredo de Lagoa Henriques no Jardim Amália Rodrigues – Lisboa

Durante a sua longa e brilhante carreira foi distinguido com os prémios:
Soares dos Reis, Teixeira Lopes e Diogo de Macedo
Prémio Rotary Clube do Porto
1ª Medalha da Sociedade Nacional de Belas Artes
Medalha de Honra na Exposição Internacional de Bruxelas
1º Prémio de Escultura da II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian.

Lagoa Henriques também se dedicou à cenografia, foi autor de programas televisivos (“Risco Inadiável”, “Pare, Escute e Olhe”, “Portugal Passado e Presente” e “Lisboa Revisitada”), proferiu conferências, nomeadamente sobre escultura, desenho e poesia, e colaborou em atividades de dinamização cultural na Fundação Calouste Gulbenkian, no Museu Nacional de Arte Antiga, no Centro Nacional de Cultura e no Instituto Português do Património Cultural.

Este influente pedagogo e artista não resistiu a uma doença prolongada, falecendo a 21 de Fevereiro de 2009. No dia seguinte, o corpo do escultor esteve em câmara ardente no seu atelier, em Belém, e o funeral realizou-se no dia 23, no Cemitério da Ajuda, em Lisboa.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2009)

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